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  • joaosales49

Quando é preciso pensar maior (e enxergar mais longe...)

Recentemente, li uma matéria preocupante para a América Latina: 12 presidentes da história recente de seus países estão foragidos, presos ou sendo processados por crimes diversos. No Peru, por exemplo, os últimos quatro presidentes estão envolvidos em escândalos (a Odebrecht tem uma boa responsabilidade nisso) e atualmente o sistema judiciário está sendo reformulado devido a constatação de venda de sentenças e negociatas por parte de juízes do Supremo Tribunal deles.

Considerando que a região tem 20 países aproximadamente, temos uma "contaminação" no executivo público na ordem de 60%, não considerando que alguns países tem mais de um envolvido em maracutaias. Replicando isso no mundo privado, teríamos 1 CEO de currículo duvidoso a cada 2 pesquisados. Não tenho estatísticas sobre isso, mas acho difícil acreditar que o ratio seja esse, em qualquer região e em qualquer circunstância.

Se colocarmos o viés político de cada um na análise, os mais a esquerda dirão que CEOs são naturalmente "duvidosos" por representarem corporações capitalistas interessadas unicamente no lucro e que não se pode comparar gestão pública e privada, enquanto os mais a direita criticarão os líderes latino americanos corruptos por pertencerem a uma "esquerda falida, hipócrita e ineficiente" e enaltecerão a economia de mercado com fúria cega. Fato aqui é que nenhuma dessas análises levam a uma resposta importante a esse fenômeno: porque há um desbalanço gritante entre a gestão pública e privada na América Latina?

Não é lógico e nem faz sentido vivermos em uma sociedade onde agimos radicalmente diferente na vida particular, na profissional e na pública. É certo que algumas ações e atitudes cabem mais quando estamos em família do que quando em uma reunião de trabalho, assim como podemos ser mais descontraídos em casa do que na rua; no entanto, o básico não muda (ou não deveria mudar): ética, caráter, honestidade e integridade são inegociáveis em qualquer atitude que tomamos em nossa vida. Isso não tem viés político, filosófico, religioso ou profissional. Se não aceitamos trabalhar em um local que não tem boas práticas trabalhistas, não podemos aceitar que nos governem açoitando nossos direitos e quebrando leis; se praticamos o bem para com o próximo, não podemos eleger representantes racistas, xenófobos ou homofóbicos; se exercemos a definição de "ética", não podemos ter mais da metade de nossos governantes envolvidos em casos de corrupção de todas as naturezas possíveis.

Não podemos "demitir" nossos líderes nas empresas que trabalhamos, mas temos a liberdade de tentar escolher os locais que os que admiramos trabalham. Também não podemos demitir nossos governantes (pelo menos não de uma maneira simples), mas podemos escolher o rumo que tomamos e pressioná-los a pavimentar esse caminho. Não é fácil e muitas vezes o benefício pode não ser visto por nós, mas voltando ao dilema público-privado, grandes corporações e nações que sobrevivem bem até hoje prezaram pelo planejamento e um consentimento entre líderes e liderados em relação a definição de sucesso, pois tem espaço para todo mundo. Não deve ter sido fácil, decisões difíceis devem ter sido tomadas, só que o resultado veio e continuará vindo fruto disso.

Se quisermos chegar em qualquer lugar temos que repensar esses pontos já, pois não será com essa estatística atual que construiremos alguma coisa decente em nossa sociedade.

(publicado em 15 de agosto de 2018 no LinkedIn)

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